A partir das 20 pistas para marcas do futuro que publicamos na nossa revista comemorativa de 20 anos, desenvolvemos um estudo de como elas poderiam se relacionar, através de uma cartografia visual, resultando em caminhos estratégicos para as marcas, no intuito de materializar o conteúdo desenvolvido em possibilidades práticas!

TEIAS COMPORTAMENTAIS: Pluriverso + indivíduos transgeracionais + design relacional
Uma teia conecta diferentes elementos no tempo e no espaço, e favorece uma interdependência empática entre gerações e culturas. Para que essa teia funcione bem é necessário respeitar e promover vínculos, sem forçar nenhuma parte a se sobrepor ou eliminar as outras.
Essa teia, no entanto, não é unidimensional. As novas teias que se formam a partir da união desses conceitos são multi-idade e multi- gerações, o que significa que estamos observando a dinâmica de grupos mistos, onde diferentes idades e diferentes momentos da vida se entrelaçam. Isso cria uma complexidade ainda maior, pois as gerações e idades não só coexistem, mas também apresentam pensamentos muitas vezes divergentes, influenciados pelas experiências distintas de cada fase da vida. Em vez de focarmos em um recorte estrito de gerações, essa abordagem nos convida a observar grupos mistos e a estudar como eles se comportam perante os mesmos eventos ou desafios. Como as diferentes experiências de vida (e formas de olhar o mundo) influenciam a forma como as pessoas respondem aos mesmos estímulos ou realidades?
Aqui, ao invés de vermos uma divisão clara entre gerações (como se fossem blocos homogêneos), a teia nos permite ver as interações complexas entre indivíduos de diferentes faixas etárias, culturas e experiências. Essas interações podem ser mais ricas, desafiadoras e reveladoras, pois expõem convergências e novas formas de entendimento que surgem quando as múltiplas visões e práticas se encontram.
O questionamento que precisamos fazer como marcas é como estamos ou gostaríamos de estar nesta teia, favorecendo e potencializando relações, construindo sistemas que ou irão contemplar e conectar os diversos indivíduos multigeracionais ou irão estabelecer conexões com grupos comportamentais específicos, sem prejudicar os demais.
Exemplo prático de produtos ou ações:
O Design Relacional nos convida a pensar sobre o sistema, e não apenas no indivíduo. Já o Pluriverso nos ensina a observar diferentes pontos de vista, enquanto os Indivíduos Transgeracionais desafiam cada vez mais os limites do etarismo, saindo da lógica de vivências somente dentro de suas ‘caixinhas etárias’. Portanto, fica a reflexão: e se em vez da sua marca tentar resolver o problema do seu consumidor em específico, ela se comunicar com toda a sua comunidade?
Por exemplo: não seria interessante imaginar uma marca de moda jovem direcionando sua comunicação para os avós do seu público-alvo e criar um interesse genuíno e inovador que poderia resolver o problema não somente do seu consumidor, mas de toda a sua rede de apoio?
E, a partir disso, também podemos refletir: a questão social da 3ª idade também poderia ser abordada com os jovens? Uma marca que aproxima jovens de seus avós, ou até mesmo que estimula o cuidado de pessoas idosas, não seria uma marca que pratica o Design Relacional e Sistêmico no lugar do Design Centrado no Usuário (DCU) e seus problemas?

WORLD CARING: Feminilidade Sênior + lugar de origem + diálogos horizontais
A importância do cuidado com o mundo e entre as pessoas, especialmente quando vinculada à característica do feminino, que historicamente se associa ao "cuidar", é um tema profundamente relevante e urgente em nossa sociedade. Quando abordamos esse cuidado como uma prática que se estende tanto ao coletivo quanto ao meio ambiente, estamos falando de um poder transformador que não só sustenta, mas também renova os laços entre os seres humanos e entre os seres humanos e a natureza.
Quando falamos em cuidar do mundo, estamos nos referindo a uma concepção expandida de cuidado, que não se limita apenas ao indivíduo ou ao círculo familiar, mas se estende ao meio ambiente, à comunidade e ao planeta como um todo. Este é um cuidado interconectado, que busca compreender que todas as partes do mundo estão entrelaçadas — as pessoas, os animais, as plantas, os recursos naturais. Esse tipo de cuidado é uma responsabilidade coletiva, que não pode ser delegada apenas a um grupo ou a um indivíduo.
O cuidado com o mundo inclui o respeito à natureza, o cuidado com os ecossistemas e a preservação das gerações futuras. Ele nos convida a repensar nossa relação com o planeta, reconhecendo que o que fazemos hoje impacta diretamente as gerações que virão, e que cada ação tem um efeito em cadeia sobre o todo.
No contexto das relações entre as pessoas, o cuidado se traduz em uma prática de empatia, respeito e responsabilidade. Quando adotamos uma postura de cuidado em relação ao outro, reconhecemos a dignidade e a humanidade do outro, independentemente de sua idade, gênero, origem ou status social. Isso implica em escutar ativamente, em valorizar as experiências do outro, e em oferecer apoio para que cada indivíduo tenha a oportunidade de crescer, se desenvolver e contribuir para o bem-estar coletivo.
O cuidado entre as pessoas também se reflete no cuidado com as relações: como tratamos uns aos outros em nossas interações cotidianas, como construímos pontes de entendimento, como curamos as feridas do passado e como colaboramos para criar espaços mais inclusivos e respeitosos.
Exemplo prático de produtos ou ações:
Quando falamos na pista Lugar de Origem, estamos falando sobre reverenciarmos os saberes ancestrais. Já a Feminilidade Sênior fala sobre o papel de cuidadores que todos temos que assumir em algum momento da vida, enquanto os Diálogos Horizontais sugerem um olhar menos hierarquizado a respeito das relações, abrindo diálogos e conexões com pares que estão lado a lado. Então, já imaginou na possibilidade da sua marca se inspirar em algum saber ancestral, ou até mesmo de uma cultura originária, para cuidar da sua comunidade?
Por exemplo: você sabia que os indígenas consideram que todos os seres da floresta são entidades espirituais? E se sua marca começar a cuidar de uma praça da cidade pensando nas conexões e no bem-estar coletivo que ela poderia gerar? Ou, no caso de uma marca de cosméticos, criar campanhas e ações para homenagear todas as entidades que representam as plantas e os frutos que contribuíram para a elaboração de um produto?

COLETIVOS: Design Vivo + design relacional + ansiedade climática
Quando esses três conceitos — design vivo, design relacional e ansiedade climática — se encontram, criamos o conceito de coletivos. O termo "coletivos" aqui se refere a um novo entendimento de responsabilidade compartilhada em relação à crise climática. Esse conceito propõe que, em vez de ver o problema climático como uma questão isolada e distante, todas as partes da sociedade, incluindo marcas e consumidores, se vejam como parte de um coletivo interconectado, no qual todos têm papéis ativos e responsabilidades no processo de mitigação dos impactos ambientais.
As marcas, tradicionalmente vistas como entidades focadas no lucro, precisam se posicionar como agentes transformadores dentro desse coletivo. Elas não podem mais se dar ao luxo de serem passivas ou apenas "neutras" em relação aos problemas climáticos. A crise ambiental exige um compromisso ativo de todas as partes da sociedade, e as marcas devem agir de forma proativa, oferecendo soluções tangíveis e concretas para lidar com a crise climática.
O design vivo e o design relacional se entrelaçam para criar soluções coletivas mais profundas e duradouras. Enquanto o design vivo garante que as soluções sejam adaptáveis e regenerativas, o design relacional promove uma conexão empática entre as partes envolvidas, seja na produção, no consumo ou na relação com o meio ambiente. Juntos, eles criam um modelo de coletivo em que cada ator (marca, consumidor, comunidade) tem um papel ativo e colaborativo na criação de um futuro sustentável.
As marcas têm um papel central nesse novo modelo, não apenas como empresas que buscam o lucro, mas como agentes de transformação social e ambiental. Elas devem se colocar à frente da questão climática, não apenas oferecendo produtos sustentáveis, mas também criando soluções coletivas, educando seus consumidores e construindo diálogos horizontais que fomentem a colaboração.
Esse novo conceito de coletivos é, portanto, uma chamada à ação coletiva, onde todos somos responsáveis por construir um mundo mais equilibrado, regenerativo e sustentável. As marcas, como facilitadoras desse movimento, têm o poder de transformar a ansiedade climática em ação positiva, sendo verdadeiras agentes do bem comum.
Exemplo prático de produtos ou ações:
Já parou para avaliar como a sua marca pode proporcionar ações regenerativas em seus processos de produção, colocando não somente o seu público-alvo e seus problemas individuais no centro das ações, como também os desafios que a sociedade como um todo enfrenta em relação às questões climáticas?
Existem diversas possibilidades dentro do universo da sustentabilidade que podem conectar a sua marca com um público consciente acerca das questões climáticas, como: trocar produtos ou serviços por créditos de carbono, repensar sua estrutura de geração de lixo e o uso de plástico em suas embalagens. Essas ações são apenas algumas das inúmeras estratégias possíveis vindas desse cruzamento de pistas que coloca todos no protagonismo na busca por soluções para a crise climática.

ORDEM NO CAOS: Indivíduos transgeracionais + pluriverso + efervescência cultural
Estamos em um momento de convergência transgeracional, onde diversidade e fluxo constante de culturas e identidades oferecem uma oportunidade única de construção de novas formas de organização e harmonia, mesmo diante do caos informacional e cultural.
Esse caos não precisa ser visto como algo negativo ou desorganizado, mas como uma condição criativa e multifacetada de organização cultural. A estratégia, nesse caso, seria buscar uma maneira de abraçar a multiplicidade, gerenciando-a de forma que ela se torne produtiva e inclusiva, ao invés de fragmentada ou excessivamente polarizada.
Podemos transformar o caos cultural em uma oportunidade de criar novas formas de ordem criativa, onde múltiplos movimentos e identidades culturais coexistem de maneira dinâmica, interconectada e colaborativa, por exemplo:
Integração dos Saberes Ancestrais com as Novas Realidades: Os indivíduos transgeracionais são capazes de trazer à tona sabedorias e práticas que remontam a gerações anteriores, enquanto também têm a flexibilidade para se adaptar às novas demandas e transformações culturais. A estratégia, aqui, seria equilibrar o antigo e o novo, sem que um se sobreponha ao outro, mas permitindo que ambos coexistam de maneira harmônica.
Cultivo da Diversidade Criativa: O pluriverso nos desafia a reconhecer que existem diversas formas de ser e de viver. Em vez de tentar impor uma única visão de mundo, a ideia seria fomentar a convivência de diferentes mundos, ampliando o repertório cultural, artístico, social e político. No plano estratégico, isso se traduz em promover a colaboração entre diferentes grupos, práticas e manifestações culturais, tornando o "caos" em um espaço criativo de intercâmbio e inovação.
Efervescência como Catalisadora de Novas Ordens: Os movimentos culturais efervescentes não precisam ser vistos apenas como transientes ou caóticos, mas como momentos de grande potencial criativo e transformador. O caminho estratégico seria aproveitar esse potencial, reconhecendo as forças disruptivas desses movimentos, mas direcionando-as para criar novos pactos sociais e culturais que sejam inclusivos e dinâmicos, ao invés de fugirem para a polarização ou fragmentação.
Exemplo prático de produtos ou ações:
O cruzamento dessas pistas nos estimula a compreender mais a respeito dos movimentos culturais e entender como eles podem se converter em ações impactantes para a sua marca se comunicar de forma mais diversa o seu público, incluindo diversas gerações!
Como a arte, a música, a literatura, a dança e as expressões culturais do nosso tempo podem aparecer em suas campanhas ou até mesmo na forma de apresentar os seus produtos e serviços? Como a sua marca se relaciona com a diversidade cultural do Brasil?

INESPERADO: Economia granular + zoom in + micro alegrias + irregularidades
Quando unimos irregularidades, zoom in, economia granular e micro alegrias, criamos um ciclo de valorização do inesperado e das imperfeições que se tornam oportunidades de inovação e conexão. Irregularidades não são mais vistas como desvios a serem corrigidos, mas como fontes de valor, que quando observadas de perto (com um olhar de zoom in) podem revelar insights preciosos. Essas irregularidades, quando abordadas de forma flexível e descentralizada (pela economia granular), permitem soluções e interações mais personalizadas, adaptadas às necessidades locais e individuais. E, por fim, as imperfeições ou desajustes criam momentos espontâneos e emocionais de micro alegrias, promovendo uma conexão genuína com as pessoas e com o que realmente importa em suas vidas. Somos convidados a olhar para o que está à nossa volta com mais atenção e apreciação, resgatando o valor das coisas simples que muitas vezes passam despercebidas. Em um mundo saturado de informações e de exigências para um crescimento exponencial, a verdadeira felicidade e bem-estar podem surgir de momentos discretos, porém significativos, no nosso cotidiano e na nossa comunidade local.
A irregularidade, quando integrada ao conceito de zoom in, economia granular e micro alegrias, oferece às marcas uma oportunidade única de explorar o desconhecido e celebrar a imperfeição. Ao desafiar as normas estabelecidas e valorizar os momentos não convencionais, as marcas podem criar experiências que são ao mesmo tempo autênticas, personalizadas e emocionalmente ricas.
Exemplo prático de produtos ou ações:
No cruzamento dessas quatro pistas, somos desafiados a pensar: como a sua marca produz produtos ou serviços em menor escala de forma personalizada para cada perfil de cliente e suas especificidades?
No momento em que a Coca-Cola decidiu colocar os nomes de pessoas em suas latas, por exemplo, de certa forma essa ação teve que abrir mão de uma larga escala de produção para atingir um engajamento maior com a Economia Granular que proporciona Micro Alegrias para os seus consumidores. Com isso, fica a reflexão: como a sua marca pode oferecer um mimo, um regalo ou um momento de alegria para o seu público, mesmo que isso vá contra a lógica da grande escala?
Quer receber uma edição da revista Pó de Pólen e fazer uma cartografia personalizada para sua marca? Entre em contato com a gente pelo email nektar@nektardesign.com.br
Comments